Fonte da imagem: EUAX – técnica 5W2H
O atendimento clínico centrado na pessoa (ACCP) tem se tornado um dos pilares fundamentais na prestação de cuidados de saúde modernos. Diferente do modelo biomédico tradicional, que muitas vezes se concentra exclusivamente na doença, o ACCP coloca a pessoa como um todo — com suas necessidades, valores, preferências e experiências — no centro do processo de cuidado. Dentro desse contexto, a técnica 5W2H emerge como uma ferramenta poderosa para estruturar e guiar o atendimento clínico, garantindo que ele seja eficaz, empático e personalizado. Neste artigo, exploraremos como a técnica 5W2H pode ser aplicada no atendimento clínico centrado na pessoa, detalhando cada um de seus componentes e exemplificando sua aplicação prática.
O que é a Técnica 5W2H?
A técnica 5W2H é uma ferramenta de análise que surgiu originalmente no campo da gestão e da qualidade, utilizada para identificar e solucionar problemas de maneira sistemática. O nome 5W2H deriva das iniciais em inglês das perguntas que compõem a técnica: What (O que?), Why (Por quê?), Where (Onde?), When (Quando?), Who (Quem?), How (Como?) e How much (Quanto custa? ou Qual o custo?). Cada uma dessas perguntas é projetada para abordar um aspecto crítico de qualquer situação ou processo, permitindo uma visão abrangente e detalhada da questão em análise. No contexto do atendimento clínico centrado na pessoa, a técnica 5W2H pode ser adaptada para criar um plano de cuidados que não só atenda às necessidades do profissional de saúde, mas também respeite e valorize a individualidade do paciente. A seguir, vamos explorar como cada uma dessas perguntas pode ser aplicada na prática clínica.
1. What (O que?): identificação de necessidades e objetivos
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No contexto do atendimento centrado na pessoa, o “O que?” refere-se à definição clara do problema de saúde ou da necessidade do paciente. No entanto, diferentemente de uma abordagem puramente biomédica, onde o foco estaria exclusivamente no diagnóstico da doença, o ACCP amplia essa pergunta para incluir o que realmente importa para o paciente em relação à sua saúde e bem-estar.
Enquanto um paciente pode inicialmente procurar um serviço de saúde para tratar sintomas físicos, como dor ou fadiga, a prática centrada na pessoa considera também as necessidades emocionais, psicológicas e espirituais do paciente. Por exemplo, um paciente que busca tratamento para enxaquecas crônicas pode também estar lidando com níveis elevados de estresse e ansiedade. A abordagem “O que?” no ACCP exige que o profissional explore todos os aspectos das necessidades do paciente, perguntando: “O que está realmente acontecendo na vida deste paciente que pode estar contribuindo para suas enxaquecas? O que o paciente espera alcançar com a aromaterapia?”
Exemplo prático:
Imagine um paciente com fibromialgia, uma condição que causa dor generalizada e que é frequentemente acompanhada por fadiga e distúrbios do sono. Ao aplicar a questão “O que?” na técnica 5W2H, o profissional de saúde deve considerar não apenas o alívio da dor, mas também o impacto da fibromialgia na vida cotidiana do paciente. Por exemplo, “O que” significa para esse paciente poder dormir bem? Como a redução da dor pode influenciar sua capacidade de trabalhar, socializar ou praticar atividades que ele gosta? Ao entender essas questões, o profissional pode selecionar medidas que não apenas tratam os sintomas, mas também apoiem a qualidade de vida e o bem-estar emocional do paciente.
Metas terapêuticas personalizadas
Outra dimensão crucial da pergunta “O que?” é a definição de metas terapêuticas personalizadas. Isso envolve a colaboração entre o paciente e o profissional para identificar os resultados desejados do tratamento. Essas metas podem variar amplamente, desde a redução de sintomas específicos até a melhoria geral do bem-estar e da qualidade de vida. Em uma abordagem centrada na pessoa, é essencial que essas metas sejam realistas, mensuráveis e alinhadas com as expectativas do paciente.
Exemplo prático:
Um paciente com depressão leve pode definir como objetivo principal a melhoria do humor e a redução dos episódios de tristeza. Para outro paciente, a meta pode ser simplesmente encontrar um estado de relaxamento que permita um sono reparador. Ao discutir “O que” o paciente espera alcançar, o profissional pode ajustar o tratamento não-farmacológico para maximizar as chances de atingir essas metas. Por exemplo, enquanto a lavanda pode ser excelente para promover o relaxamento e o sono, um óleo como o citrus pode ser mais adequado para elevar o humor e combater a letargia associada à depressão.
2. Why (Por quê?): explorando motivações e causas
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No ACCP, a questão “Por quê?” aprofunda tanto a compreensão das causas clínicas quanto dos fatores pessoais, sociais e emocionais que influenciam a saúde do paciente. Essa questão pode ajudar a identificar as motivações do paciente para buscar tratamento, bem como as causas fundamentais dos sintomas.
A questão “Por quê?” também pode ser aplicada para entender as motivações e expectativas do paciente em relação à consulta e ao tratamento. Por que o paciente escolheu a sua especialidade? O que ele espera alcançar com o tratamento? Essas perguntas são fundamentais para alinhar o tratamento às expectativas do paciente e para evitar frustrações futuras.
Exemplo prático:
Um paciente pode procurar um naturopata porque deseja um tratamento mais natural e menos invasivo para a insônia. Ao explorar o “Por quê?”, o profissional pode descobrir que o paciente já tentou outras abordagens, como medicamentos ou a mudança de hábitos alimentares durante a noite, sem sucesso. Essa informação é crucial para ajustar o tratamento com outras técnicas que o paciente ainda não experimentou, como fitoterápicos associados à higiene do sono.
Entendendo as causas subjacentes
Outra aplicação do “Por quê?” é investigar as causas subjacentes dos sintomas que o paciente está enfrentando. Isso pode incluir não apenas fatores físicos, como desequilíbrios hormonais ou deficiências nutricionais, mas também fatores emocionais e psicológicos, como estresse, ansiedade ou traumas passados.
Exemplo prático:
Se um paciente busca seu serviço para tratar dores crônicas, o profissional pode usar a questão “Por quê?” para explorar se essas dores estão relacionadas ao estresse ou a uma condição emocional. Descobrir que o paciente vive em um ambiente altamente estressante ou que está lidando com uma perda recente pode orientar o tratamento para não focar apenas na dor física, mas também em promover o relaxamento e o equilíbrio emocional. Neste caso, educação em saúde sobre técnicas de relaxamento e manejo do estresse pode ajudar a criar um tratamento mais abrangente e eficaz.
3. Where (Onde?): contextualizando o tratamento na vida do paciente
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A pergunta “Onde?” no atendimento clínico centrado na pessoa vai além de determinar o local físico onde o tratamento será realizado. Ela considera o contexto mais amplo da vida do paciente, incluindo o ambiente doméstico, o ambiente de trabalho e outros espaços onde o paciente passa seu tempo.
Adaptação ao ambiente doméstico
O ambiente doméstico do paciente é um fator crucial a ser considerado no planejamento do tratamento de aromaterapia. Um ambiente acolhedor e relaxante pode potencializar os benefícios dos óleos essenciais, enquanto um ambiente caótico ou estressante pode dificultar a eficácia do tratamento.
Exemplo prático:
Se um paciente vive em uma área rural com acesso limitado a serviços de saúde ou recursos, o profissional de saúde precisa considerar essas limitações ao elaborar um plano de tratamento. Além disso, o “Onde?” pode incluir a análise do ambiente doméstico do paciente: ele vive sozinho ou com família? Quem são as pessoas que o apoiam? O ambiente é propício para a implementação das mudanças necessárias no estilo de vida? Um plano de cuidados centrado na pessoa deve, portanto, ser adaptado para o contexto específico do paciente, levando em conta esses fatores.
4. When (Quando?): sincronizando o tratamento com a rotina do paciente
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A questão “Quando?” é crucial para o planejamento e execução do cuidado, especialmente no contexto do atendimento clínico. Isso envolve não só determinar o momento certo para intervenções clínicas, mas também alinhar o plano de cuidados com a rotina e os horários que fazem sentido para o paciente.
Exemplo Prático:
Exemplo Prático:
Para um paciente que trabalha em turnos irregulares, o “Quando?” pode implicar em agendar consultas ou realizar monitoramento da sua saúde em horários que se ajustem melhor à sua rotina de trabalho. Além disso, o profissional de saúde pode precisar discutir com o paciente sobre o momento ideal para introduzir novas práticas de autocuidado, como exercícios ou mudanças na dieta, garantindo que essas práticas sejam sustentáveis a longo prazo. Assim, o “Quando?” no atendimento clínico se torna uma ferramenta para integrar o cuidado à vida cotidiana do paciente, em vez de exigir que o paciente adapte sua vida ao cuidado.
Integração do tratamento com rotinas diárias
A questão “Quando?” também envolve a integração do tratamento nas rotinas diárias do paciente de uma forma que seja prática e sustentável.
Exemplo prático:
Exemplo prático
Um paciente que passa longos períodos sentado em frente ao computador pode beneficiar-se de pausas regulares para alongamento e relaxamento. O “Quando?” aqui pode se referir a esses momentos de pausa, ajudando a quebrar a monotonia do dia de trabalho e a reduzir a tensão física e mental. Para outro paciente, o “Quando?” pode ser associado ao ritual noturno de cuidados pessoais, como higiene do sono, promovendo um sono mais tranquilo.
5. Who (Quem?): identificando os envolvidos no tratamento
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No atendimento clínico o “Quem?” é uma questão central. Trata-se de identificar não apenas quem está diretamente envolvido no cuidado (como médicos, enfermeiros, ou outros profissionais de saúde), mas também quem na vida do paciente pode apoiar ou influenciar o processo de cuidado.
Para muitos pacientes, especialmente aqueles com condições crônicas ou necessidades especiais, a rede de apoio é crucial. Entender quem são essas pessoas e como elas podem contribuir para o bem-estar do paciente é essencial para o sucesso do tratamento.
Exemplo prático:
Se um paciente idoso está passando por um tratamento prolongado, é importante identificar se ele tem um cuidador em casa e quem pode acompanhar o tratamento. O profissional de saúde pode então adaptar o plano de cuidados para incluir orientações específicas para os cuidadores, garantindo que todos os envolvidos estejam alinhados com os objetivos do tratamento.
Embora possa parecer óbvio, o “Quem?” também inclui o próprio paciente como um participante ativo no processo de aromaterapia. Em um modelo de ACCP, o paciente não é apenas um receptor passivo de cuidados, mas um parceiro ativo na escolha e aplicação dos tratamentos.
Exemplo prático:
Ao empoderar o paciente para escolher seu tratamento, principalmente relacionado a hábitos de vida, fortalece a colaboração e aumenta o engajamento do paciente no tratamento. O “Quem?” aqui envolve ajudar o paciente a desenvolver habilidades e confiança para ser o protagonista no seu tratamento de maneira autônoma, sempre que possível.
6. How (Como?): tratamento personalizado
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A pergunta “Como?” explora as estratégias e métodos que serão utilizados para alcançar os objetivos definidos. No atendimento clínico, isso envolve a criação de um plano de cuidados que seja não apenas clinicamente eficaz, mas também alinhado com as preferências, capacidades e estilo de vida do paciente.
Exemplo prático:
Exemplo prático:
Um paciente que prefere tratamentos naturais pode ser melhor atendido com uma abordagem que inclua práticas como a aromaterapia, a fitoterapia ou a acupuntura. O “Como?” nesse caso envolve a escolha cuidadosa das intervenções que se alinham com as preferências e valores do paciente, garantindo que o plano de cuidados seja eficaz e aceitável para ele.
7. How Much (Quanto?): considerações financeiras e logísticas
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A última questão, “How Much?” ou “Quanto custa?”, é crucial não apenas no sentido financeiro, mas também em termos de tempo, esforço e outros recursos que o paciente precisará investir no tratamento. Em um atendimento centrado na pessoa, é fundamental considerar esses custos em um sentido mais amplo, incluindo aspectos emocionais e psicológicos.
A pergunta “Quanto custa?” também pode se referir à avaliação de custo-benefício das intervenções propostas. Isso inclui uma análise de quanto o paciente terá que investir (em termos de tempo, dinheiro e esforço) em comparação com os benefícios esperados.
Exemplo prático:
Se um paciente considera participar de uma série de sessões de terapia para controle da dor crônica, o profissional de saúde deve ajudá-lo a pesar os custos financeiros e de tempo contra os possíveis benefícios, como a melhoria da qualidade de vida e a redução da dor. Além disso, é importante discutir abertamente sobre os recursos disponíveis, como planos de saúde ou apoios comunitários, que podem ajudar a reduzir os custos financeiros.
Implementação da Técnica 5W2H no Atendimento Clínico Centrado na Pessoa
A implementação da técnica 5W2H no ACCP exige uma abordagem colaborativa entre o profissional de saúde e o paciente. Não se trata apenas de responder às perguntas de forma isolada, mas de integrar essas respostas em um plano de cuidados co-criado, onde o paciente se sente ouvido, valorizado e envolvido no processo de decisão.
- Passo 1: Avaliação Inicial – A primeira etapa na implementação do 5W2H é uma avaliação inicial abrangente, onde o profissional de saúde busca entender não apenas o estado clínico do paciente, mas também suas expectativas, valores, e o contexto de vida. Aqui, as perguntas 5W2H começam a ser exploradas para construir um quadro completo da situação.
- Passo 2: Co-criação do Plano de Cuidados: Com base na avaliação inicial, o profissional de saúde e o paciente trabalham juntos para desenvolver um plano de cuidados que responda às perguntas 5W2H. Isso pode incluir a definição de metas claras, a identificação de barreiras potenciais e a criação de estratégias para superá-las. O paciente deve ser incentivado a expressar suas preferências e preocupações, garantindo que o plano de cuidados seja verdadeiramente centrado nele.
- Passo 3: Implementação e Monitoramento: Após a co-criação do plano de cuidados, a próxima etapa é a sua implementação. Durante esse processo, o profissional de saúde deve continuar a aplicar a técnica 5W2H para monitorar o progresso, ajustar o plano conforme necessário e garantir que ele permaneça alinhado com as necessidades e circunstâncias do paciente. Por exemplo, se surgirem novos desafios ou se as circunstâncias do paciente mudarem, o plano pode ser revisado usando as perguntas 5W2H para garantir que ele continue sendo eficaz e centrado na pessoa.
- Passo 4: Revisão e Aprendizado Contínuo: A técnica 5W2H também é útil para a revisão e avaliação contínua do atendimento. Ao longo do tempo, o profissional de saúde e o paciente podem usar as perguntas 5W2H para refletir sobre o que funcionou, o que precisa ser ajustado e como o cuidado pode ser melhorado. Essa abordagem permite um aprendizado contínuo e uma adaptação constante às mudanças nas necessidades e nas circunstâncias do paciente.
Conclusão
A técnica 5W2H, quando aplicada no contexto do atendimento clínico centrado na pessoa, oferece uma estrutura poderosa para garantir que o cuidado seja não apenas clinicamente eficaz, mas também profundamente alinhado com as necessidades, valores e preferências do paciente. Ao abordar cada um dos componentes do 5W2H — o que, por que, onde, quando, quem, como e quanto — os profissionais de saúde podem desenvolver planos de cuidados que são verdadeiramente personalizados e centrados na pessoa.
Embora existam desafios na implementação dessa abordagem, eles podem ser superados através de uma colaboração genuína entre o profissional de saúde e o paciente, além de um compromisso contínuo com a adaptação e o aprendizado. Assim, a técnica 5W2H não só melhora a qualidade do cuidado prestado, mas também fortalece a relação entre o paciente e o profissional de saúde, promovendo um atendimento mais humano, empático e eficaz.
Em um mundo onde a saúde é cada vez mais complexa e personalizada, o uso de ferramentas como a 5W2H no ACCP não é apenas desejável, mas essencial para garantir que todos os pacientes recebam o cuidado que merecem — um cuidado que realmente coloca a pessoa no centro de tudo.
Alguma dúvida sobre como fazer um atendimento clínico centrado na pessoa de forma eficiente e eficaz?
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