Fung, T.K.H.; Lau, B.W.M.; Ngai, S.P.C.; Tsang, H.W.H. Therapeutic Effect and Mechanisms of Essential Oils in Mood Disorders: Interaction between the Nervous and Respiratory Systems. Int. J. Mol. Sci. 2021, 22, 4844. https://doi.org/ 10.3390/ijms22094844
Introdução
Os óleos essenciais (OE) têm se destacado como o componente principal na aromaterapia, uma prática cada vez mais reconhecida por seus efeitos terapêuticos. Esses óleos podem ser inalados ou aplicados na pele, sempre seguindo as diluições corretas para garantir segurança e eficácia. Entre essas opções, a inalação se sobressai como a mais comum e eficaz.
Diversas plantas produzem óleos essenciais com uma ampla gama de efeitos, desde o relaxamento promovido pelo OE de lavanda e bergamota até propriedades específicas de outros óleos essenciais. A utilização desses óleos para promover o bem-estar está associada a componentes químicos específicos presentes em cada um deles.
Embora já exista comprovação clínica sobre a eficácia dos óleos essenciais no tratamento da depressão e de distúrbios do humor, os mecanismos que explicam esses efeitos terapêuticos ainda não estão completamente definidos. Neste artigo, vamos explorar como os óleos essenciais são absorvidos pelo corpo através da inalação e discutir os possíveis mecanismos celulares e moleculares que podem estar relacionados aos seus benefícios terapêuticos. Prepare-se para uma jornada fascinante pelo mundo da aromaterapia e descubra como essas substâncias naturais podem influenciar positivamente a sua saúde mental e emocional.
Efeitos terapêuticos dos OEs
Estudos anteriores mostraram que os óleos essenciais (OEs) ajudam a aliviar sintomas de depressão, ansiedade e estresse em adultos de todas as idades, inclusive acima de 60 anos (Tabela 1). Por exemplo, foi comprovado que inalar OEs de lavanda e camomila diminuiu depressão, ansiedade e estresse em idosos. Acredita-se que esses efeitos possam estar ligados à redução da atividade do sistema nervoso simpático, aquele que é hiperativado quando estamos em situações de perigo e que está relacionado ao estresse. Além disso, inalar OE de lavanda pode ajudar a baixar a pressão arterial e a frequência respiratória durante ataques de pânico.
Tabela 1. Resumo dos efeitos clínicos da inalação de OE nos transtornos de depressão/ansiedade em estudos humanos.
OE(s)Nome Científico (Nome Comum) | Resultados |
Lavandula angustifolia (lavanda) | Ansiedade reduzida; efeito positivo no humor; maior nível de calma; controle da pressão arterial; relaxamento respiratório; estresse reduzido |
Citrus sinensis (laranja doce) | Efeito ansiolítico; efeito positivo no humor |
Junos cítricos (Yuzu) | Efeito ansiolítico; efeito antidepressivo |
Bergamia cítrica (bergamota) | Nível reduzido de cortisol salivar |
Matricaria chamomilla (Camomila) | Efeito antidepressivo; efeito ansiolítico; estresse reduzido |
Salvia rosmarinus (alecrim) | Efeito ansiolítico |
Salvia officinalis (sálvia) | Efeito positivo no humor |
Salvia lavandulaefolia (sálvia espanhola) | Efeito positivo no humor |
Lavandula angustifolia (Lavanda) + Rosa damascena (Rosa Damascena) | Efeito ansiolítico; efeito antidepressivo |
Lavandula angustifolia (Lavanda) Cananga odorata (Ylang-ylang) + Citrus aurantium (Neroli) | Efeito ansiolítico |
Fonte: Adaptado de Fung et al.,. Therapeutic Effect and Mechanisms of Essential Oils in Mood Disorders: Interaction between the Nervous and Respiratory Systems. Int. J. Mol. Sci. 2021, 22, 4844. https://doi.org/ 10.3390/ijms22094844
Os efeitos dos OEs também foram testados em animais. Testes de comportamento mostraram que inalar OE de lavanda aumentou a atividade dos animais, indicando menos ansiedade, e reduziu a imobilidade, sugerindo menos depressão. Os OEs de limão e ylang-ylang também foram eficazes na redução da ansiedade em animais.
Estudos em animais ajudaram a entender como os óleos essenciais (OEs) funcionam. Descobriu-se que os OEs ajudam a aumentar os níveis de serotonina (5-HT) e dopamina (DA), que são substâncias do cérebro ligadas ao humor (felicidade e motivação, respectivamente), o que explica seus efeitos calmantes. O efeito antidepressivo dos OEs está relacionado ao aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína que ajuda na saúde dos neurônios. Além da lavanda, os OEs de limão, perilla e asarum também mostraram reduzir a imobilidade e aumentar 5-HT e DA. O ylang-ylang, por exemplo, ativa uma via celular que aumenta a serotonina e o crescimento celular.
(Foto: Shutterstock)
Os OEs podem interagir com várias vias de neurotransmissores no cérebro, como os sistemas noradrenérgico, serotonérgico, GABAérgico e dopaminérgico. A eficácia dos OEs depende principalmente de seus compostos ativos. Alguns desses compostos, como linalol (presente no OE de Lavanda), limoneno (presente no OE de limão) e benzoato de benzila (presente no OE de Ylang Ylang), têm efeitos calmantes e antidepressivos. O benzoato de benzila, encontrado no ylang-ylang, ativa as vias de serotonina e dopamina, ajudando a reduzir a ansiedade. O linalol e o β-pineno atuam na via GABAérgica, que está relacionada ao relaxamento, o que explica o efeito calmante dos OEs de lavanda e bergamota. Os OEs de laranja doce, rosa e lavanda podem ter um efeito sedativo, reduzindo o cortisol, o hormônio do estresse.
A eficácia dos OEs varia com a concentração e a combinação de diferentes compostos químicos. Além disso, os cheiros dos OEs podem ativar receptores olfativos, melhorando o humor. Diferentes cheiros produzem padrões únicos de sinais elétricos no sistema olfativo, resultando em variados efeitos positivos no humor.
Absorção de moléculas de EO por inalação (mecanismos por trás do efeito dos OEs no cérebro)
Quando inaladas, as moléculas dos OEs chegam ao cérebro por diferentes caminhos, dependendo do tamanho das moléculas. Os dois principais sistemas envolvidos são o olfativo e o respiratório.
- Sistema Olfativo: Começa na cavidade nasal e está conectado ao bulbo olfativo, que transmite sinais de cheiro ao cérebro. Este sistema está próximo do cérebro e ligado a áreas como o hipotálamo e o hipocampo, importantes para o processamento das emoções e memórias. Moléculas finas podem passar diretamente do nariz para o sistema nervoso central, alterando as respostas emocionais.
- Sistema Respiratório: Responsável pela troca de gases, onde moléculas de vapor dos OEs podem se dissolver no epitélio respiratório e se difundir para os alvéolos. De lá, entram na corrente sanguínea e são transportadas para o cérebro.
Há três mecanismos principais pelos quais os OEs podem afetar o cérebro:
- Ativação dos Receptores Olfativos: Os cheiros ativam quimiorreceptores no nariz, enviando sinais ao cérebro, que podem influenciar o humor devido à ligação direta com o sistema límbico.
- Penetração Direta: As moléculas dos OEs podem passar pelo nervo olfativo e alcançar diretamente áreas do cérebro, causando eventos celulares e moleculares que afetam o comportamento e o humor.
- Absorção Alveolar: As moléculas dos OEs são absorvidas nos pulmões e entram na corrente sanguínea, atravessando a barreira hematoencefálica para interagir com regiões específicas do cérebro, influenciando funções cerebrais.
- Transmissão do sinal odorífero (através da ativação de quimiorreceptores olfativos nasais)
A chave para identificar odores e desencadear seus efeitos no cérebro está nos neurônios sensoriais olfativos (NSO). Os humanos possuem cerca de 400 genes que codificam para esses receptores, com cada neurônio expressando um tipo específico de receptor de odor. Pesquisas em animais mostram que cada odor pode ativar uma combinação única de receptores sensoriais, criando um sinal específico que permite distinguir diferentes cheiros.
Os NSOs estão distribuídos na camada epitelial olfativa (Figura 1). Quando inalamos um óleo essencial (EO), as moléculas de odor voláteis passam pelo epitélio olfativo e se ligam aos receptores nos NSOs, gerando sinais que produzem um potencial de ação. Os axônios dos mesmos tipos de OSNs convergem para células específicas no bulbo olfativo. Esses sinais são então transmitidos dos glomérulos para as células mitrais, que, por sua vez, passam os sinais para os neurônios no córtex olfativo.
Figura 1 – Visão esquemática dos neurônios sensoriais olfativos
Legenda: Inhaled air containing odor molecules: ar inalado contendo moléculas odoríferas / Cilia: cílios / Receptor cells: neurônios sensoriais olfativos / Olfactory epithelium: epitélio olfatório / Lamina propria: lâmina própria / Cribriform plate: placa cribiforme / Axons of olfactory neurons: axônios dos neurônios olfativos / Glomeruli: glomérulo / Olfactory bulb: bulbo olfatório / Mitral cell: célula mitral.
O córtex olfativo (figura 2) inclui várias regiões, como o córtex piriforme, o tubérculo olfativo e o córtex entorrinal, que projetam informações para o sistema límbico, incluindo a amígdala, o hipocampo e o hipotálamo. Esses sinais olfativos, ao contrário de outros sinais sensoriais, podem ser transmitidos diretamente para o córtex sem passar pelo tálamo. Isso cria uma conexão direta e específica entre odores, memória, emoção e funções endócrinas.
Figura 2 – Sistema olfativo humano: O córtex olfativo primário e secundário estão representados a azul e verde, respectivamente.
Legenda: Amyg: amígdala / Ento: córtex entorrinal / Hipo: hipocampo / OFC, pela sigla em inglês: córtex orbitofrontal / PC, pela sigla em inglês: córtex piriforme / Thal: tálamo
Fonte: SAIVE, Anne-Lise; ROYET, Jean-Pierre; PLAILLY, Jane. A review on the neural bases of episodic odor memory: from laboratory-based to autobiographical approaches. Frontiers in behavioral neuroscience, v. 8, p. 240, 2014.(adaptada from Royet et al., 2014).
As diferentes áreas do córtex olfativo têm funções específicas. O córtex piriforme e o córtex orbitofrontal identificam odores e integram informações olfativas, enquanto o córtex piriforme e o córtex entorrinal enviam sinais para a amígdala e o hipocampo. A amígdala processa respostas emocionais e controla a intensidade do cheiro, e o hipocampo desempenha um papel na formação da memória de odores. O córtex piriforme também se conecta ao hipotálamo, que é crucial para a secreção hormonal e a resposta ao estresse.
- Transporte químico de moléculas (penetração direta de moléculas de OE via caminho neural)
Além da transmissão de sinais olfativos, os óleos essenciais (OEs) podem afetar o humor através do transporte de suas moléculas para o cérebro. Após serem inaladas, essas moléculas voláteis podem viajar diretamente pelo sistema olfativo e alcançar o cérebro.
2.1 Transporte Intracelular:
Quando os compostos dos OEs são inalados, eles se ligam aos receptores nos neurônios do sistema olfativo. Isso pode levar à internalização dos receptores e à endocitose, um processo onde as moléculas são englobadas pela célula. A partir daí, as moléculas são transportadas para o córtex olfativo e interagem com o hipocampo e a amígdala. Dois nervos cranianos, o nervo olfativo e o nervo trigêmeo, estão envolvidos nesse transporte:
- Nervo Olfativo: Transporta as moléculas por endossomas ao longo dos axônios até o bulbo olfativo.
- Nervo Trigêmeo: Conecta-se à ponte, parte do cérebro que transmite informações ao cerebelo e regula a respiração.
2.2 Transporte Extracelular:
Outra forma de transporte é através do espaço entre as células. As moléculas passam pela fenda paracelular entre a célula de suporte e o neurônio sensorial olfativo e entram na lâmina própria (figura 1) via movimento do fluido. A partir daí, elas são transportadas externamente ao longo dos axônios até alcançar o cérebro. Essas moléculas então atravessam a barreira hematoencefálica (BBB) e a barreira de fluido sangue-cerebroespinhal para alcançar diferentes regiões do cérebro.
Assim, as moléculas dos OEs podem interagir com vários receptores de neurotransmissores no cérebro, incluindo: Receptores de canais iônicos transitórios (TRP), GABA (ácido gama-aminobutírico), Serotonina (5-HT) e Dopamina (DA). Essas interações com receptores de neurotransmissores ajudam a explicar como os óleos essenciais (OEs) podem exercer efeitos terapêuticos. Aqui estão mais detalhes sobre como essas interações funcionam e seus possíveis impactos no cérebro:
- Receptores TRP: Os receptores de canais potenciais do receptor transitório (TRP) estão envolvidos na percepção sensorial, incluindo a dor e a temperatura. Certos compostos dos OEs podem ativar esses receptores, que, por sua vez, podem influenciar a percepção da dor e outros sinais sensoriais, contribuindo para um efeito calmante e analgésico.
- Receptores GABA: O GABA é o principal neurotransmissor inibitório no cérebro, ajudando a reduzir a excitabilidade neuronal. Moléculas de OEs como o linalol (encontrado na lavanda) podem interagir com os receptores GABA, aumentando sua atividade e promovendo relaxamento e redução da ansiedade.
- Receptores de Serotonina (5-HT): A serotonina está associada à regulação do humor, ansiedade e felicidade. Certos compostos de OEs podem aumentar a atividade dos receptores de serotonina, contribuindo para efeitos antidepressivos e ansiolíticos. Isso é particularmente relevante para moléculas que podem atravessar a barreira hematoencefálica e influenciar diretamente os níveis de serotonina no cérebro.
- Receptores de Dopamina (DA): A dopamina é crucial para a motivação, recompensa e regulação do humor. Alguns componentes dos OEs podem interagir com os receptores de dopamina, modulando seus efeitos e potencialmente melhorando o humor e reduzindo os sintomas de depressão.
- Sistema respiratório e sistema nervoso central (absorção alveolar de moléculas de eo na circulação sanguínea com efeito subsequente no cérebro)
Os óleos essenciais (OEs) podem ser absorvidos através do sistema respiratório, onde as moléculas inaladas são transportadas pelo trato respiratório até os alvéolos nos pulmões. Nos alvéolos, apenas as moléculas solúveis conseguem atravessar a barreira ar-sangue e entrar na circulação sistêmica. Como os OEs contêm muitos compostos, incluindo terpenos que são solúveis em lipídios, essas moléculas lipofílicas podem atravessar a barreira hematoencefálica (BBB) e atingir o sistema nervoso central (SNC), resultando em efeitos psicológicos e fisiológicos positivos.
Efeito dos OEs em eventos celulares/moleculares
Nesta seção, exploraremos os possíveis mecanismos celulares e moleculares subjacentes ao efeito terapêutico de diferentes OEs em estudos com humanos e animais.
- Regulação de Monoaminas
Segundo a hipótese da depressão envolvendo a serotonina (5-HT), os sinais e sintomas da depressão surgem devido à falta dessa substância. Esta é a principal teoria atualmente para explicar a fisiopatologia da depressão.
Os efeitos dos OEs no sistema de serotonina foram mostrados em vários estudos. Por exemplo, em um estudo com idosos que usaram massagem terapêutica e inalação de óleos essenciais de lavanda, laranja doce e bergamota por 8 semanas, houve uma redução nos sintomas depressivos. Esta melhora foi associada a um aumento da serotonina no sangue desses pacientes.
O óleo essencial de bergamota é frequentemente usado para tratar ansiedade e depressão. Em um estudo com animais, quando o esse óleo foi usado junto com uma substância que bloqueia um tipo específico de receptor de serotonina (5-HT1A), houve um efeito maior na redução da ansiedade. Isso sugere que o óleo essencial de bergamota pode aumentar a liberação de serotonina ao bloquear esses receptores, mas são necessários mais estudos para entender completamente esses efeitos a longo prazo.
Outro óleo essencial comum é o de ylang-ylang, usado para relaxamento e tratamento de depressão e ansiedade. A exposição a esse óleo foi associada ao aumento de serotonina no hipocampo e à inibição de vias de sinalização ativadas pelo estresse. Apesar dos óleos essenciais estarem associados ao aumento da liberação de serotonina, os mecanismos detalhados ainda não são totalmente compreendidos.
Além da serotonina, outra monoamina importante na depressão é a dopamina (DA). A falta de interesse e prazer, um sintoma central da depressão, está ligada ao sistema de dopamina no cérebro, especialmente em áreas como a área tegmental ventral (VTA) e o núcleo accumbens (NAc). Problemas nesse circuito estão relacionados à depressão. Por exemplo, o óleo essencial de limão aumentou a renovação de dopamina no hipocampo, possuindo efeitos antidepressivos. Mais estudos são necessários para esclarecer melhor o papel da dopamina nesses efeitos.
- Neurogênese e Fatores Neurotróficos
Nos últimos anos, muitos cientistas especularam que a depressão pode ser causada por uma falta de criação de novos neurônios no cérebro, um processo chamado neurogênese. Essa ideia surgiu porque estudos mostraram que tratamentos com antidepressivos aumentam a neurogênese no hipocampo de roedores (um modelo comum para estudar depressão), enquanto o estresse, que é um fator de risco para doenças psiquiátricas, reduz a neurogênese.
Recentemente, alguns estudos sugeriram que os óleos essenciais podem ter efeitos terapêuticos devido a sua capacidade de promover a neurogênese. Em um estudo com animais, a exposição crônica ao óleo essencial de lavanda evitou os efeitos negativos da depressão, aumentando a neurogênese, o crescimento dos neurônios e os níveis de um fator de crescimento neuronal chamado BDNF – proteína que desempenha um papel crucial no crescimento, desenvolvimento e sobrevivência dos neurônios, além de estar associada à regulação do humor.
As neurotrofinas são fatores de crescimento que ajudam no desenvolvimento dos neurônios e aumentam a plasticidade neural. O BDNF é a neurotrofina mais estudada em relação à depressão. A hipótese neurotrófica da depressão sugere que a falta de fatores neurotróficos como o BDNF, causada pelo estresse e pela redução da plasticidade neural, está relacionada à depressão. Estudos clínicos mostram que os níveis de BDNF são mais baixos em pacientes com depressão que não foram tratados, e aumentam com o tratamento antidepressivo.
Estudos sobre óleos essenciais e neurotrofinas se concentraram principalmente no BDNF. Em um estudo com mulheres cujos filhos tinham déficit de atenção e hiperatividade (um grupo que sofre muito estresse), um tratamento de 4 semanas com óleos essenciais reduziu a ansiedade e a depressão e aumentou os níveis de BDNF no sangue.
Estudos com animais também mostraram que tratamentos com óleos essenciais aumentam os níveis de BDNF e melhoram os sintomas de depressão. Por exemplo, uma mistura de óleos de limão e alecrim melhorou as funções cognitivas e aumentou os níveis de BDNF. O d-limoneno, um componente importante dos óleos essenciais de laranja, mostrou promover o crescimento neuronal ativando uma via de sinalização específica no cérebro. Quando essa via foi bloqueada, os efeitos do d-limoneno foram suprimidos.
Em resumo, tanto estudos básicos quanto clínicos apoiam os efeitos terapêuticos dos óleos essenciais na regulação de fatores neurotróficos, sugerindo que os componentes ativos dos óleos essenciais podem promover o crescimento neuronal através da regulação desses fatores e da ativação de vias de sinalização específicas. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender melhor esses processos.
- Regulação do Sistema Neuroendócrino
Os óleos essenciais podem ajudar a regular os níveis hormonais, o que pode explicar seus efeitos no tratamento de condições como a síndrome pré-menstrual e os distúrbios da menopausa. O estresse é um fator de risco para a depressão e ansiedade, e o hormônio do estresse, o cortisol, tem sido foco de muitos estudos sobre os efeitos antidepressivos e ansiolíticos dos OEs.
Em estudos com humanos, foi demonstrado que a exposição ao óleo essencial de lavanda diminui os níveis de cortisol na saliva e no sangue, promovendo relaxamento e melhorando a circulação sanguínea. Esse efeito foi observado em adultos, mulheres grávidas, mães de crianças com disfunções de desenvolvimento, crianças pequenas e pacientes em quimioterapia. Além da lavanda, outros óleos como bergamota e semente de grapefruit também mostraram reduzir os níveis de cortisol.
Estudos em animais sugerem que os OEs podem alterar o eixo HPA (hipotálamo-pituitária-adrenal), que regula a resposta ao estresse. A inalação de óleo essencial de bergamota reduziu a resposta de corticosterona ao estresse. Os efeitos dos OEs no comportamento de ansiedade e depressão também podem depender da predisposição genética. Em ovelhas, a exposição ao óleo de lavanda reduziu o comportamento ansioso e os níveis de cortisol em ovelhas mais calmas, mas aumentou esses fatores em ovelhas mais nervosas.
- Outros mecanismos possíveis: Estresse Oxidativo e Inflamação
A depressão e os transtornos de ansiedade também estão ligados ao estresse oxidativo, causado por espécies reativas de oxigênio (ROS), que pode levar à neurodegeneração. Como o sistema nervoso central (SNC) precisa de muito oxigênio, ele é vulnerável aos danos causados pelo estresse oxidativo, que pode desencadear inflamação e morte celular, potencialmente contribuindo para a depressão.
Os OEs podem ser benéficos na depressão devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Por exemplo, a exposição aos óleos essenciais de lavanda e alecrim reduz a atividade dos radicais livres, prevenindo os danos do estresse oxidativo. O cinamaldeído, encontrado no óleo essencial de canela, também possui propriedades antioxidantes. Embora os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios dos OEs sejam bem conhecidos, a maioria dos estudos se concentra em distúrbios relacionados ao estresse oxidativo, como problemas de pele e cicatrização de feridas. Mais pesquisas são necessárias para entender melhor como o estresse oxidativo e a inflamação se relacionam com os efeitos terapêuticos dos OEs nos transtornos do humor.
Conclusões
Esta revisão discutiu os efeitos antidepressivos e ansiolíticos dos OEs, baseando-se em estudos clínicos em humanos e experimentos com animais. Também abordou como a interação entre o sistema respiratório e o sistema nervoso central (SNC) permite que as moléculas dos OEs afetem os distúrbios do humor de várias maneiras. Mudanças em níveis celulares e moleculares, como a regulação de monoaminas, fatores neurotróficos e neurogênese, são possíveis mecanismos pelos quais os OEs exercem seus efeitos terapêuticos.
Referência: Fung, T.K.H.; Lau, B.W.M.; Ngai, S.P.C.; Tsang, H.W.H. Therapeutic Effect and Mechanisms of Essential Oils in Mood Disorders: Interaction between the Nervous and Respiratory Systems. Int. J. Mol. Sci. 2021, 22, 4844. https://doi.org/ 10.3390/ijms22094844